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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Atividades - 9º ano


Brincadeira
 
 

Começou como uma brincadeira. Telefonou para um desconhecido e disse:
- Eu sei de tudo.
Depois de um silêncio, o outro disse:
- Como é que você soube?
- Não interessa. Sei de tudo.
- Me faz um favor. Não espalha.
- Vou pensar.
- Por amor de Deus.
- Está bem. Mas olhe lá, hein?
Descobriu que tinha poder sobre as pessoas.
- Sei de tudo.
- Co-como?
- Sei de tudo.
- Tudo o quê?
- Você sabe.
- Mas é impossível. Como é que você descobriu?
A reação das pessoas variava. Algumas perguntavam em seguida:
- Alguém mais sabe?
Outras tornavam agressivas:
- Está bem, você sabe. E daí?
- Daí nada. Só queria que você soubesse que eu sei.
- Se você contar para alguém, eu...
- Depende de você.
- De mim, como?
- Se você andar na linha, eu não conto.
- Certo.
Uma vez, parecia ter encontrado um inocente.
- Eu sei de tudo.
- Tudo o quê?
- Você sabe.
- Não sei. O que é que você sabe?
- Não se faça de inocente.
- Mas eu realmente não sei.
- Vem com essa.
- Você não sabe de nada.
- Ah, quer dizer que existe alguma coisa para saber, mas eu é que não sei o que é?
- Não existe nada.
- Olha que eu vou espalhar...
- Pode espalhar que é mentira.
- Como é que você sabe o que eu vou espalhar?
- Qualquer coisa que você espalhar é mentira.
- Está bem. Vou espalhar.
Mas dali a pouco veio um telefonema.
- Escute. Estive pensando melhor. Não espalha nada sobre aquilo.
- Aquilo o quê?
- Você sabe.
Passou a ser temido e respeitado. Volta e meia alguém se aproximava dele e sussurrava:
- Você contou para alguém?
- Ainda não.
- Puxa. Obrigado
Com o tempo, ganhou reputação. Era de confiança. Um dia, Foi procurado por um amigo com uma oferta de emprego. O salário era enorme.
- Por que eu? – quis saber.
- A posição PE de muita responsabilidade – disse o amigo. – Recomendei você.
- Por que?
- Pela sua discrição.
Subiu na vida. Dele se dizia que sabia tudo sobre todos mas nunca abria a boca para falar de ninguém.
Além de bem informado, um gentleman. Até que recebeu um telefonema. Uma voz misteriosa que disse:
- Sei de tudo.
- Co-como?
- Sei de tudo.
-Tudo o quê?
- Você sabe.
Resolveu desaparecer. Mudou-se de cidade. Os amigos estranharam o seu desaparecimento repentino. Investigaram. O que ele estaria tramando? Finalmente foi descoberto numa praia remota. Os vizinhos contam que uma noite vieram muitos carros e cercaram a casa. Várias pessoas entraram na casa. Ouviram-se gritos. Os vizinhos contam que a voz que mais se ouvia era a dele, gritando:
- Era brincadeira! Era brincadeira!
Foi descoberto de manhã, assassinado. O crime nunca foi desvendado. Mas as pessoas que o conheciam não têm dúvidas sobre o motivo.
Sabia demais.
 
 (Luis Fernando Veríssimo. Comédias da vida privada, Porto Alegre: L&PM, 1995. p.189-191)


Estudo do texto:

1.     Graças ao seu “silêncio”, o protagonista ocupa cargos de confiança e “sobe na vida”. Até que um dia as coisas mudam. Qual dos ditos populares a seguir traduz a nova situação vivida pelo protagonista?

a)     Antes tarde do que nunca.
b)    Boca fechada não entra mosca.    
c)    O feitiço virou contra o feiticeiro.                          
d)  Os últimos serão os primeiros.                                                  

 
2. Quais dos itens seguintes sintetizam as idéias principais do texto?

a)     Ter informações exclusivas equivale a ter poder sobre as pessoas.
b)    Melhor do que guardar segredos é não ter informações.
c)     A sociedade se organiza a partir de um jogo de aparências, de falsos papéis sociais; nesse jogo, a aparência vale mais do que a verdade.
d)    Discrição é a melhor fórmula para uma boa convivência.

 
3. Qual a parte do texto em que fica evidente a desconfiança dos amigos com relação às atitudes do protagonista?

 
a)     “Passou a ser temido e respeitado.”                                  
b)    “O que ele estaria tramando?”
c)     “Resolveu desaparecer.”                                       
d)    “Sabia demais.”

4. O texto acima é uma crônica. Que característica principal comprova essa afirmação?

 
a)     Presença de diálogos                     
b)    Personagens                           
c)     Situações do cotidiano     

 
5. Que tipo de crônica consiste o texto acima?

 
a)     Humorística                                    
b)    Lírica                          
c)     Reflexiva                           
d)    Crítica

 
Estudo da língua:

 
  1. Nas orações abaixo os termos em destaque exercem a função sintática de sujeito, exceto em:

a)     Eu sei de tudo.

b)    A reação das pessoas variava.

c)     Os amigos estranharam o seu desaparecimento repentino.

d)    O crime nunca foi desvendado.


  1. Em   O  crime  nunca   foi desvendado.” os termos da oração em destaque respectivamente são:

a)     Adjunto adnominal, adjunto adverbial, predicativo.

b)    Adjunto adverbial, adjunto adnominal, predicado verbal.

c)     Adjunto adnominal, adjunto adnominal, predicado verbal.

d)    Adjunto adnominal, adjunto adverbial, predicado verbal.

 

  1. Em “ Qualquer coisa que você espalhar é mentira.” o termo destacado trata-se de predicativo do sujeito. As classes gramaticais que podem exercer essa função sintática são:

 
a)     Substantivo e verbo                                 

b)    Substantivo e adjetivo

c)     Substantivo e numeral                              

d)    Substantivo e advérbio


  1.  “Finalmente foi descoberto numa praia remota.”  Classificando morfossintaticamente o termo destacado temos:

a)     Locução verbal e núcleo do predicado.                 

b)    Verbo e núcleo do predicado

c)     Verbo e adjunto adverbial.                                    

d)    Locução verbal e núcleo do objeto direto.

 

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